domingo, 27 de julho de 2008

O uso da bicicleta

Estava quase desconectando quando li esta notícia que me chamou a atenção São Paulo tem apenas 23,5 km de ciclovias, não resisti e decidi publicar algo sobre. É interessante saber que perto de outras grandes cidades São Paulo está bem atrasada, considerando sua importância e dimensão. Outro aspecto curioso da matéria é que grande parte das ciclovias paulistanas se concentram em parques.
No entanto, o que mais me chamou a atenção foi este trecho:
"A hostilidade do trânsito que prioriza os veículos motorizados e um déficit histórico de investimentos em ciclovias, ciclorredes - redes de ruas preparadas para o tráfego em bicicletas -, ciclofaixas - sinalização diferenciada para o veículo - e calçadas compartilhadas conduziram à situação atual. Além disso, há um obstáculo institucional, pois a questão nem sequer é tratada pela Secretaria Municipal dos Transportes, que não considera o veículo em suas ações para melhorar o trânsito na metrópole"
Interessante notar que as causas do atraso no passado eram devido a decisões políticas. A mesma reportagem, no entanto, conclui que no presente a causa se centraliza em um obstáculo institucional. Não conheço a Secretaria Municipal dos Transportes, por isso, curioso pelo assunto e pela análise busquei por bicicleta no site da Prefeitura de São Paulo. Além de não ter nenhuma referência ao protesto realizado, a primeira reportagem que aparece é sobre o dia dos namorados...
Acredito que o obstáculo não seja essencialmente institucional, faz parte claro, mas juntaria a ele mais dois elementos: político e econômico. Na questão política é fácil compreender, trata-se de poucos eleitores. O motor da nossa sociedade política é o voto e não a participação. O segundo item é evidente, mas poucos comentam. A quem interessa financeiramente estimular o uso da bicicleta? Você já viu alguma bicicleta com a marca Volkswagen? Além desses dois fatores, existe uma mediação entre eles que é a dificuldade ou pouca arrecadagem de impostos sobre o uso da bicicleta. Será que pode andar de bicicleta alcoolizado?

Criança vendo o protesto em rua do centro de Madri; ciclistas reclamam por mais direitos a usuários de bicicletas na capital espanhola e também contra o uso de carro (Foto: Susana Vera/Reuters

Pessoas e lugares

De volta ao sertão, com o coração em uma mão e na outra meu cachimbo. As férias foram ótimas. Vivi bastante na terra do rio preto. Conheci pessoas interessantes, revi outras tantas e apreciei muita música boa. Foi desde eletrônica alternativa à MPB clássica, passando pelos insuperáveis Rock In’ Roll e Samba. Agora estou cá, ouvindo meu Vinil do Gonzaguinha e aguardando o arroz com sertanejo que rondam os pratos da humilde e lutadora população jalesense. Sempre fui da opinião de que não existem lugares, existem pessoas. Gosto muito de pessoas que revi e conheci aqui, também tive experiências interessantes, mas tenho que admitir, o lugar ajuda. Não dá pra sempre ser humanista. Ou o homem realmente será a medida de tudo que existe? Afinal, existem os lugares em que os homens se sociabilizam e suas vidas são construídas nos lugares. Acho que Sartre contribuiu para estas reflexões. Já estava cansado do livro, mas finalmente chegou em um momento interessante. Roquentim, o personagem principal, irá encontrar Anny, um antigo caso. Fazia tempo que estava esperando por este encontro, desde o início ele comentou sobre ela. Vamos ver como será, o desfecho esta chegando. O envolvente do livro é que durante a narração ele coloca várias questões existencialistas, fazendo com que o leitor também se questione sobre sua existência. Por isso a questão: o homem será realmente a medida de tudo que existe?

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Enfim, chegou o fim

As luzes se apagam, alguns segundos de silêncio e a pergunta: acabou? Sim, acabou, agora é só bater as palmas. Alguns finais são evidentes, outros nem tantos, precisam de um empurrão e lá vem o primeiro a bater as palmas. Bater as palmas é algo estranho, é a união de suas mãos por milésimos de segundos. Digo isto, porque esses dias fiquei com as mãos unidas por alguns minutos e é interessantíssimo, você sente a energia do universo circular em seu corpo. Mas enfim, o FIT acabou e as palmas foram eternizadas naqueles poucos segundos após o final de cada peça. Ao todo assisti 15 espetáculos. A maioria já descrevi neste espaço, restaram apenas Homem Voa?, A rua é um rio e Congresso Internacional do Medo. Homem voa? da Cia. Catibrum Teatro de Boneco de Belo Horizonte-MG conta a história de Santos Dumont, nada a mais a acrescentar, tirando o fato de ser teatro de bonecos. A rua é um rio foi uma peça de rua que narra a história de dois personagens que representam categorias sociais antagônicas e que vivenciam uma situação de conflito de interesses, algo bem social e nada especial.
E por fim, o Congresso Internacional do Medo, do Grupo Espanca! de Belo Horizonte-MG. Um espetáculo bem elaborado e interpretado, além de bem reflexivo. Foi bom enquanto durou, até o ano que vem!

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Eis que surge uma poesia

Em meio a espetáculos, peças, atores, atrizes e histórias eis que surge uma poesia.
Sobre Bruxas e gatos
Chegou sorrindo com o olhar,
segredos de bruxa,
artimanhas pra encantar.
Fui embora sem entender,
encantado como um gato,
que procura em uma pia
o sentido de seus atos.
Livre voltei,
e em beijos me arrisquei,
o feitiço quebrar,
que ingenuidade a minha,
da pia, pro ralo fui parar.
Bruxarias, feitiços,
encantos, pias, ralos,
beijos, gatos e atos.
De tudo pouco sei,
é muito olhar pra pouco relógio,
muito sorriso pra pouca vida.
Mas o que vale é a consciência
da plena capacidade
de ser uma bruxa mulher.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Overdose de Teatro

Dia 16/07
Mimo foi a melhor peça até o momento, e não é o momento do Festival não, é da minha vida mesmo. Do grupo holandês Munganga, mas criado e composto por atores brasileiros, é “Um espetáculo teatral sobre a poética das lembranças”. Com uma linguagem extremamente simples, mas repleta de significados e muito bem elaborada. Mimo está com a cabeça cheia de lembranças e aos poucos vai esvaziando-a e segue sua vida em busca da consciência que se reveste das máscaras que ao mesmo tempo a oculta. Bom, essa foi minha interpretação. Com um visual plástico extremamente envolvente e com músicas marcantes foi a primeira vez que fico emocionado em um teatro, pelo menos não lembro de nenhum outro momento. A noite foi a vez de Top! Top! Top!, novamente na rua e apresentada pela grupo Ivo 60 de São Paulo. Divertida, sarcástica, bem interpretada e elaborada a peça conta a aventura de um grupo de amigos que vão em busca de água e de uma vida melhor. No caminho encontram os tipos brasileiros mais Tops e a integração ao sul do país. Uma crítica à cultura sectarista e política brasileira de uma maneira divertida e inteligente. Novamente a participação das crianças é fenomenal. Tinha uma atriz interpretando um homem, no meio da peça ela faz uma troca e aparece de mulher, uma menina explica para amiga menor: "A lá, tá vendo, é mulher!". Outra participação foi em relação a personagem Grauna. No final a mesmo menina do comentário anterior se despede da atriz: "Tchau Tia Grauna!". Perfeito!
Dia 17/07
Ontem foi Burundanga da Cia. Grupo Teatral Riopretense. A peça foi bem montada, o texto interessante, alguns atores bons outros nem tanto, algumas idéias legais outras banais. Enfim, uma peça normal e sem muita originalidade que narra a burundanga (significa confusão) do país, misturando coronelismo, relações de poder e cultura política brasileira tudo no contexto do golpe militar de 64. Por hoje é só... mas amanhã tem mais...

terça-feira, 15 de julho de 2008

Diário Bifinho/FIT/2008

Continuamos com o diário Bifinho/FIT/2008. Hoje iremos contar sobre mais duas peças. A primeira é Aqueles dois. O problema foi o começo que lhe deu uma cadência emotiva inconsistente. Do meio pro final a textura, como dizem por aqui, melhorou um pouco. Depois veio a peça Asas, o conceito de teatro mais diferente que assisti até o momento da minha vida. Pra começar a peça foi na vertical, os três atores estavam pendurados por rapel em uma caixa d’água. A história era algo sobre o sonho de voar, mas a linguagem principal foi a dança, que pelo fato de ser na vertical possibilitou vários movimentos bem interessantes. Pena que as fotos foram pelo celular.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Segunda #3%

Hoje foram 3 peças. A primeira foi O menino Teresa, uma peça infantil que narra a aventura de Teresa (interpretada por Cláudia Missura), uma menina que quer conhecer as diferenças e igualdades entre os meninos e meninas e ao decorrer da peça vai se apropriando das igualdades e quase se transforma em um menino. A peça foi bem engraçada e possibilitou algumas reflexões sobre as diferenças entre os sexos. No entanto, o texto poderia ter sido mais coeso em algumas partes. A segunda foi A mulher que comeu o mundo, minha mãe, meu irmão e eu chegamos atrasados e perdemos uns 20 min do espetáculo. A peça é bem envolvente e de linguagem simples. Nessas duas primeiras peças tenho que registrar a participação das crianças. Como elas são espontâneas e participativas no teatro. Tem um momento em que a Mulher come todo mundo e fica sozinha no mundo e fica com uma expressão de o que aconteceu? Eis que um menino exclama: “Também, você comeu todo mundo!”. Por fim, chega o espetáculo Retratos Falantes, composto por 6 monólogos divididos em 3 peças. Hoje assisti a dois e serão os únicos, pois não consegui comprar ingressos para os outros dois dias. O primeiro foi sobre a relação entre um filho único e uma mãe viúva que encontra um antigo caso, provocando sentimentos de ciúmes e indignação no filho. A segunda foi mais interessante e engraçada, conta a história da esposa do pastor que narra seus conflitos e suas aventuras.

domingo, 13 de julho de 2008

Sábado cheio

Ontem foi um dia cheio de atividades. A tarde fomos assistir a peça O pavão misterioso, até agora a peça mais fraca.

Os dois atores eram bons, mas começaram enrolando o público com palhaçadas em excesso. A história, embora sendo considerada uma obra-prima da literatura de cordel, é bem simples e sem genialidade, ou seja, bobinha.

A noite foi a primeira peça dentro de um teatro mesmo: Anjo Malaquias. Esta foi interessante, embora de difícil entendimento em certos momentos e de sonolência em outros. Foi uma representação da vida e obra do “tradutor, cronista, poeta do cotidiano, alquimista das palavras” Mário Quintana, este sim simples e genial. Repleta de reflexões sobre a vida, a morte, o amor, o tempo, a poesia, o cotidiano, o Brasil, o ser humano. Por exemplo, lembro-me de algumas passagens interessantes: “A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda”; “O que me impressiona, à vista de uma macaco, não é que ele tenha sido nosso passado: é esse pressentimento de que ele venha a ser nosso futuro”; ou ainda quando encontraram em sua escrivaninha uma sugestão de epitáfio: “Eu não estou aqui”. Realmente é isso, Mário Quintana é encontrado em sua obra. Quem quiser conhecer mais entra aqui, tem muita coisa interessante.

Eis que chega o Não-lugar e as coisas mais bizarras do Festival. A primeira é a brota do vestido que absorve a água e vai mudando de cor lentamente. Também tinha a mulher do saco, isso mesmo uma mulher nua dentro de um saco. Ela ficava lá como quem não quer nada e de vez enquanto dava uma mexida e assustava alguém. No meio da festa começa um joguinho de futebol, nada muito empolgante, mas eis que a locutora coloca seu fartos seios em uma bandeja e começa: “Teta de nega 10 centavos”, Olha a teta de nega, 10 centavos”, “Por 10 centavos você pode pegar, beijar minha teta”. Com certeza foi a sensação da noite.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

O Santo Guerreiro e o Herói Desajustado

Ontem a peça foi O Santo Guerreiro e o Herói Desajustado. Teatro de rua inteligente e envolvente. Narra a história de um herói-santo, Dom Quixote, que vive uma aventura em busca de sua amada Dulcinéia São Paulo, metaforicamente a cidade de São Paulo. Repleta de sons ao vivo e cores a peça faz um paralelo da visão esperançosa, e porque não dizer ingênua, do herói que se depara com a dura realidade de uma metrópole que trás em seu bojo as mazelas do desenvolvimento urbano. Aborda de forma crítica e lírica algumas questões sociais polêmicas, por exemplo, quando trata do sonho da casa própria é inserida a música Saudosa Maloca de Adoniram Barbosa, ou quando fala do futuro do país cita os meninas cheirando cola em tom do Lá Vem do Silvio Santos, ou ainda quando Dom Quixote encontra os moinhos de vento ao som O mundo é um moinho do Cartola, momento ímpar do espetáculo. No desfecho Dom Quixote envoca alguns traços de São Jorge, daí a referência ao Santo Guerreiro, e finaliza chamando o público a cirandar. Toda essa sonoridade e visualidade me fizeram sentir como uma criança do interior nordestino de outrora que fica admirado com a chegada do Circo no vilarejo, se é que me entendem?
P.S.: Hummm....que VONTADE!!!

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Começou o FIT

Ontem foi a abertura do FIT (Festival Internacional de Teatro) de Rio Preto. Pela primeira vez vi o teatro como fenômeno de massa, mais ou menos 5 mil pessoas na represa municipal, fiquei admirado.
A peça foi Carmem Fúnebre, da companhia polonesa Teatr Biuro Podrózy, inspirada nos testemunhos dos refugiados da antiga Iugoslávia. Abordou vários temas vivenciados na guerra. O entendimento não foi comprometido pelo fato de ser polonesa, pois a base da linguagem foi por meio de símbolos, sobretudo, fogo, pernas de pau, luzes, músicas, entre outros.
Após a peça teve início a festa conhecida como Não-lugar. Lá, foram concentrados algumas performances. A primeira foi o Eu tenho autorização da polícia para ficar pelado aqui. Um cara que ficava dentro de um cercado, interpretado por mim como um quarto, e ora dançava, ora assistia uma TV coberta com um pano preto e ora ficava pelado. Olha a foto aí:
Também tinham três brotas amarradas entre si e ficavam fazendo cenas eróticas. E o mais interessante foi quando começou o Dj. Tinha um pequeno palco que as pessoas dançavam e duas ficavam gravando, uma abaixo da cintura e outra acima, depois pegavam as imagens e misturavam nos dois telões. É claro que fui dançar!!! Muito bom, o festival começou bem...
Uma informação: fui entrevistado pela rádio municipal...

sábado, 5 de julho de 2008

Caminhada

Vou caminhando e ando, ando.
Pelas linhas me perco e cerco, cerco.
O sol brilha na ilha, ilha.
A rua me chama na cama, cama.
A paz um dia reinará? Será, será?
A pergunta se junta, junta
No meu ser que cai, ai, ai.
O que resta é calar e amar, amar.
No silêncio da escolta que volta, volta.
Nos trilhos do mundo, imundo, imundo.
Enfim, se perde a esperança, na dança, dança.
De uma caminhada, calada, calada.

O ciclo da Náusea

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Correios e a TV Tem

A TV Tem acaba de noticiar a paralisação dos funcionários dos Correios. Durante a notícia foi entrevistado um funcionário de Rio Preto e o Lúcio Ramos perguntou sobre a entrega das correspondências. Meio desconsertado e inseguro o funcionário respondeu que devido a ser uma paralisação nacional tudo ficaria parado. Logo após, Ramos comenta com indignação a sua preocupação com a população que ficará sem os serviços e resmunga sobre a paralisação, pois há pouco tempo os Correios parou. Primeiro: qual é o problema da população ficar sem os serviços dos Correios considerando que se trata de uma luta por direitos trabalhistas? Paralisou novamente, deve ter algum motivo para isso? No entanto, o Tem Notícias não buscou informações consistentes e usou a fragilidade da consciência do funcionário para difundir uma opinião conservadora com aparência crítica. Sobre a segunda questão os funcionários informam que a greve é devido as reivindicações passadas não serem atendidas e sobre a primeira é triste ver nossa imprensa formando opiniões conservadoras de forma tão espontânea.