Vejo você em uma túnica
vem caminhando lentamente ao meu encontro,
sorriso maroto, olhar trespassado,
andar marcado
Quando se aproxima,
seu cheiro invade minha mente.
E minha mente se perde em sua pele
marcada de suor e sangue
Lembro-me de quando começamos.
Era apenas a realidade
cheia de vaidade,
misturada com luxúria
E entorpecida dos sonhos
irreais que ousamos imaginar
Aos poucos e com o tempo
tudo foi se perdendo.
Até que um dia, nos rencontramos.
E você vinha nua
com seu sorriso maldoso,
seu olhar já passado
e seu andar ajoelhado.
Já perdidos, nos perguntamos:
“Quem é você?”
E juntos respondemos:
“Não sei, apenas estou aqui.”
Quando nos olhamos
de nossa consciência obtivemos
uma resposta simples
que ecoou dentro de nossos cigarros:
“Perdidos, mas lado a lado estamos”
E assim, voltamos a caminhar
em trilhas com espinhos a nos marcar
perfurando nossos olhos
nossos pecados,
nossos sonhos!
E sempre lembrando:
“Perdidos estamos, mas lado a lado ficamos”
Hoje, já não enxergo
por entre o sangue de minha pupila.
Rastejo-me na escuridão de nossos vícios,
de nossos desperdícios
Tateio em sons e imagens
a representação de ti
que insiste em fugir da realidade
e instaurar em minha mente
canções irreais, banais, magistrais.
São peças da minha cabeça
que resgato a cada amanhecer
as lembranças dos sons
que ecoam nas multidões:
“Perdidos estamos, mas lado a lado ficaremos”