quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Um conto em prosa

Para eu escrever um conto, uma poesia, ou até mesmo um livro (pasmem eu já escrevi um livro), sempre inicio com uma ideia, não qualquer ideia, mas uma que seja original, única, singular e ao mesmo tempo universal. Única e singular para manifestar o íntimo da minha existência e universal para que todos os possíveis leitores sintam-se contemplados e ao mesmo tempo indignados com tamanha intimidade exposta. Essa ideia tem que tomar conta por completo dos meus pensamentos, tem que ser impossível existir sem colocá-la em palavras, tem que ser algo completamente viciante. Algo que você irá e deverá conectar com tudo aquilo que você faça, sobretudo, no cotidiano. Até pensei em dizer que essa ideia deva ser potencialmente ampla, no entanto, todas as ideias são potencialmente amplas, cabe a nós alargar seus limites com disciplina e concentração. Portanto, a ideia inicial é necessariamente um diamante bruto que deve ser lapidado com os pequenos gestos do dia-a-dia. Embora toda ideia fique ampla com esforço e trabalho, via de regra, elas não surgem da mesma maneira. Pra mim, elas surgem ao acaso, exclusivamente de um sentimento, acidentalmente em uma viajem de ônibus, por exemplo. E hoje, foi exatamente quando estava no ônibus que me ocorreu uma ideia. Não para um livro e nem uma poesia, talvez para um conto, ou uma crônica. O fato é que viajo durante 40 minutos de casa para chegar até meu trabalho e para aproveitar o tempo comecei a ler O livro do riso e do esquecimento de Kundera. Estimulado pela leitura comecei a analisar o gosto por viajar e foi quando ela surgiu, ali, no lugar mais comum da consciência coletiva, o assunto mais popular que existe: o sexo! Não é algo erótico, mas que envolve a sexualidade em sua forma primitiva, especificamente posso afirmar que me senti um espermatozóide dentro de um pênis, que no caso seria o ônibus. Digamos que é uma metáfora bem fálica, mas que não posso levá-la as últimas consequências, ficaria muito arbitrário. Por exemplo, quando estava relatando tal metafora a uma amigo ele me questionou o que seria os preservativos. Simplesmente algo difícil de responder, talvez os motoristas que decidem abrir ou não as portas, mas seria um preservativo ineficiente, pois a todo momento ele permitiria a concepção. Também teriamos que pensar o que seria a vulva, em Curitiba não é difícil, pois os pontos são tubos que facilmente provoca a imaginação. Também poderia imaginar a cidade como a grande mãe que a todos acolhe. Enfim, é uma ideia pouco produtiva que apenas gostaria de registrar.