terça-feira, 28 de setembro de 2010

Fragmentos de um debate #2#

Há números e números, a análise do Élio Gaspari pra mim são fragmentadas e mostrando apenas meias verdades, típico de um mecanismo ideológico burguês denunciado por Marx. Ele não analisa a totalidade do sistema, como bem reivindicava Marx. Veja bem. Em termos absolutos, ele está corretíssimo, mas em termos relativos não. A questão não é a melhora dos dados apresentados: “Ridley informa: a renda das pessoas triplicou, a pobreza absoluta caiu de 50% da humanidade para 18%, comem-se 30% mais calorias, a mortalidade infantil foi reduzida em dois terços e um cidadão do Botswana tem hoje a renda de um finlandês em 1955”, mas “A renda dos 10% mais pobres da população caiu 17% entre 1979 e 1991, enquanto a renda dos 10% mais ricos aumentou 62%”. A renda de a população pobre cair 17% não é problema central e sim a renda dos mais ricos aumentar em 62%!! Isso é concentração e distanciamento entre as classes. Para melhor elucidar a questão vou utilizar um autor do Serviço Social, José Paulo Netto, que está analisando o surgimento da questão social, ele diz:

“Com efeito, se não era inédita a desigualdade entre as várias camadas sociais, se vinha de muito longe a polarização entre ricos e pobres, se era antiqüíssima a diferente apropriação e fruição dos bens sociais, era radicalmente nova a dinâmica da pobreza que então se generalizava. Pela primeira vez na história registrada, a pobreza crescia na razão direta em que aumentava a capacidade social de produzir riquezas. Tanto mais a sociedade se revelava capaz de progressivamente produzir mais bens e serviços, tanto mais aumentava o contingente de seus membros que, além de não terem acesso efetivo a tais bens e serviços, viam-se despossuídos das condições materiais de vida de que dispunham anteriormente. Se, na formas de sociedade precedentes à sociedade burguesa, a pobreza estava ligada a um quadro geral de escassez [...], agora ela se mostrava conectada a um quadro geral tendente a reduzir com força a situação de escassez. Numa palavra, a pobreza acentuada e generalizada no primeiro terço do século XIX – o pauperismo – aparecia como nova precisamente porque ela se produzia pelas mesmas condições que propiciavam os supostos, no plano imediato, da sua redução e, no limite, da sua supressão”

Distanciar o abismo entre as classes no capitalismo é lutar pelo Estado de Bem-Estar social, inspirada nas ideias keynesianas e efetivadas pelos governos socialdemocratas, vejamos o que Mészáros nos diz a respeito:

“Adotando essa ambigüidade como estratégia, o reformismo socialdemocrata podia falsamente prometer a realização dos objetivos socialistas por meio da gradual ampliação de melhorias quantitativas no padrão de vida dos trabalhadores (por meio do auto-engano e jamais, mesmo sob governos trabalhistas ou socialdemocratas, tentando consistentemente a ‘taxação progressiva’), quando na realidade o capital sempre permaneceu com o controle total do processo de reprodução social e da distribuição da ‘riqueza da nação’ produzida pelo trabalho [...]. Dessa maneira ele contribuía ativamente para a revitalização do adversário capitalista, em vez de defender sua própria causa em favor de uma ordem social alternativa. Inevitavelmente, a aceitação de melhorias parciais concedidas pelo adversário, retiradas de suas margens de operação na expansão lucrativa do capital, impunha um altíssimo preço ao trabalho. Significava a aceitação dócil da autoridade do capital na determinação das reivindicações que seriam ou não consideradas legítimas e na participação adequada do trabalho na riqueza social disponível. Assim, não espantava que no discurso socialdemocrata a questão da verdadeira igualdade humana se diluísse a ponto de perder o sentido, ritualmente reiterada nas convenções partidárias na forma de retórica vazia e autocontraditória de ‘justiça’ [...] e ‘igualdade de oportunidades’ desvia e subservientemente contraposta à ‘igualdade de resultados’”

Quero deixar registrado que sou a favor da socialdemocracia, mas não como fim, mas como meio para se alcançar uma ordem social alternativa. Se é que é possível para fazer a revolução trocar a razão da arma pela arma da razão (como diria Engels).

E para finalizar, por hora, sobre o pessimismo e otimismo, compactuo com Gramsci que diz: “devemos ser realistas nas análises e otimistas na vontade de mudar”

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Nostalgia

Momento nostalgia: estou revendo alguns textos meus em blogs antigos. Dizem que melhoramos a escrita com o tempo, mas quando releio esse meu blog sinto que foi o melhor momento que tive como escritor. Vejam o que escrevi em 03/10/2004, em Ilha Solteira:

Um lugar no mundo

Entre milhares de pessoas uma poderia ser o seu grande amor. Um amor que encaixasse perfeitamente num vazio de ideais construídos por sonhos de uma infância perdida. Um amor que como num jogo de quebra-cabeça fosse montado por pequenos detalhes, no qual o resultado se configurasse momentaneamente por meio de um rosto maternal. Um amor que envelhecesse com você e tentasse entendê-lo em meio aos múltiplos personagens coexistentes no interior de único e singular indivíduo. Um amor que soubesse o valor de uma música escolhida entre milhares de músicas, mas que traduzisse com simplicidade uma história vivida repleta de sentimentos complexos. Está pessoa poderia ser uma entre milhares de pessoas?

Entre centenas de pessoas uma poderia ser uma grande amiga. Uma amiga que nas horas difíceis lhe desse o apoio humorado de ser uma amiga. Uma amiga que lhe desse idéias, que você seguiria mesmo sem compreendê-las com exatidão. Uma amiga que ao escutar críticas maldosas sobre você entendesse seus motivos sem ao menos você dizer uma só palavra. Uma amiga que quando pensasse em ligar para você o telefone tocasse e já antes de atendê-lo saberia que é você do outro lado. Uma amiga que você também faria tudo isso pra ela por apenas um olhar diferente. Está pessoa poderia ser uma entre milhares de pessoas?

Tarefa não menos fácil é encontrar um lugar no mundo. Não qualquer lugar, mas lugar que fosse a sua cara. Um lugar repleto de espiritualidade que você só de pisar já sentisse os bons fluídos. Um lugar que mesmo simples fosse uma constelação de significados de uma história representada por aqueles personagens autônomos mas dependentes da singularidade que é você. Um lugar que mesmo após uma longa viagem você ainda sentisse seu cheiro pairando no ar. Um lugar de encontro entre você e sua grande amiga. Um lugar que seu grande amor entrasse mesmo sem ser convidada e se sentiria tão bem e tão à vontade que nunca mais fosse embora. Entre milhares de quilômetros de extensão da terra um centímetro poderia ser esse lugar.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Fragmentos de um debate

Olá camaradas, companheiros, colegas, amigos e desconhecidos, Devo declarar que também não sou filiado a nenhum partido, mas adoro debater política. Não pelos políticos, pois estes cada vez afastam a população desse debate, mas por acreditar que é pela política que organizamos os espaços e ações públicas, visando atender o bem coletivo, visto que a mão invisível do Smith nunca cumpriu com seu papel. Portanto, nada mais justo os homens organizados cumprirem com tal papel. Aliás, essa ideia vem no bojo da discussão da social-democracia citada pelo camarada Rodrigo. Acredito muito na possibilidade histórica de uma social-democracia brasileira, embora muito distante da nossa realidade atual. Por isso, não sou contra a priori as altas taxas de impostos, pelo contrário, defendo que essas taxas sejam justas (que no Brasil sabemos que não é, pois está vinculada ao consumo e produção e não a renda) e que sejam efetivamente aplicadas nas políticas públicas (que também sabemos que não são, visto a perca de dinheiro dos cofres públicos em políticas desorganizadas e corrupção). Esta dificuldade em ampliar os direitos sociais, vem outra questão que julgo muito importante: as diversos concentrações que existem no Brasil. A primeira é a concentração de renda. Segundo IBGE, em 2004, 1% da população detinha 14% do PIB, enquanto 50% da população brigam por 13,5% do PIB, daí já temos um panorama dos possíveis problemas sociais que decorrem dessa concentração. Temos também a concentração de propriedade, que se articula a concentração de renda. Esta, nem vou trazer dados para não me prolongar. Não obstante, soma-se a estas duas concentrações a do poder político. Basta ver pela significativa bancada ruralista, que segundo site Transparência Brasil , "a bancada ruralista está principalmente em três partidos: PMDB, DEM e PSDB." Por fim, temos a última e não menos importente, concentração dos meios de comunicação, que é claro também estão articulados com as outras 3 concentrações. Agora vêm a questão: como desenvolver uma real social-democracia neste quadro? Ou ainda, a social-democracia só terá condições de se efetivar rompendo com este quadro de concentração. E nem FHC, nem Lula, nem Dilma, nem Serra romperão com essa situação. Talvez, no limiar da loucura e da velhice, o Plínio que possui uma história e um discurso mais aproximado. Do resto, dá-lhe neoliberalismo. Também como o camarada Rodrigo, não defendo de unhas e dentes o PT, mas como dialético crítico que tento ser, não me abstenho de atacar o PSDB e inclusive o próprio PT, hava vista que o Lula, embora tenha melhorado um pouco o andamento das políticas públicas, não foi lá grandes coisas diante das concentrações acima citadas. Por fim, devo registrar que além da social-democracia temos como horizonte o socialismo ou a barbárie, que diga-se de passagem, está última já ronda nossos lares, ruas e quintais.