terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Capitalismo, Avatar, crítica e 3D

Eu fico me perguntando: o que será que aconteceu? De fato, a propaganda ideológica do capitalismo é importante para sua sobrevivência, mas não diria a chave do capitalismo. A chave do capitalismo, desde que Marx interveio na análise aprofundada de suas relações, são as relações de produção combinada com a superestrutura política, jurídica e ideológica. O sistema ideológico, portanto, seria apenas uma combinação desta chave, e não a chave. Outra questão importante dentro do contexto ideológico é saber discernir o que se pretende com os seus mecanismos, que é ocultar, ainda como diria Marx, a realidade da produção social e histórica das relações sociais. Portanto, como saber senão ver o filme Avatar em 3D? Como debater senão experimentar? O próprio Marx descreve em uma passagem o seu encantamento pela fotografia e que ela reflete todas as contradições do capitalismo e todas suas potencialidades de produção, que serão essenciais desenvolvê-las para um novo patamar de sociabilidade comunitária.

Agora vem a questão central: e daí? Foucalt diz que tudo que tentamos fazer para quebrar o ciclo da sociedade moderna contemporânea servirá como mais um elo para sua construção. Tomar coca-cola é muito mais eficiente para a sobrevivência do capitalismo do que assistir ao Avatar, por exemplo. E eu tomo, você toma, todos nós tomamos a é hóstia sagrada do capital. Afinal, que sentido tem tomar uma bebida que não tem nenhum valor nutricional? Um dia li uma reportagem com o executivo geral de marketing da coca-cola no Brasil, perguntaram se não seria falsa a propaganda divulgar um produto com tais características. Ele respondeu que não, pois a coca-cola possuiu um alto teor nutricional de glicose. Glicose? O único nutriente naquele caldo sujo é a glicose? E ainda a gente toma coca zero, que no caso é sem glicose? Tudo isso já sabemos, e nem por isso ficamos repetindo. E nem por isso paramos de tomar coca-cola. Sabemos que os filmes hollywoodianos são ideológicos e nem por isso paramos de assisti-los. Sabemos que são meros produtos e nem por isso paramos de consumi-los.

Estava lendo outra reportagem sobre o GOC, um rapper que fez umas "pontas" com a Maria Rita e Lenine. E descobri que o Mano Brawn, sabe aquele do Racionais MC que não dá entrevista para a Globo? Então, ele assinou no ano passado um contrato com a Nike? E aí? Se o mano Brawn símbolo da resistência subversiva radical assinou um contrato com a Nike? Porque eu, mero assistente social mortal não posso me deliciar com os prazeres da vida moderna? O próprio GOC que tem uma música que critica o PCC já fez um show patrocinado pelo próprio PCC e quando perguntaram se não era contraditório ele respondeu: "não tenho medo da contradição".

Para finalizar como diria Foucalt: ao tomarmos consciência desses elos e de nossa condição niilista o que nos resta é aproveitar. Portanto, críticos de plantão assistam Avatar, mas em 3D!