A teoria do caos tem como principal indicativo que o bater de asas de uma borboleta está interligado a formação de um tufão do outro lado do mundo. De fato tudo esta interligado por fios invisíveis que a nossa mediocridade racional não enxerga. Este final de semana eu e Ita fomos ao festival de MPB em Ilha Solteira, que além das apresentações dos músicos locais e nacionais concorrendo, também teve o show do Zeca Baleiro no final. Das 14 músicas apresentadas, tirando 2 ou 3, todas muito boas que mereciam destaque na mídia, mas como hoje o principal critério de uma música fazer sucesso é passar pelo crivo do mercado, infelizmente será difícil esse destaque. A música Velha Barrageira, do músico local Hugo, merecidamente ganhou o festival, uma letra bem construída, uma melodia simples e com efeito animador e uma interpretação performática foram os seus principais ingredientes.
Quando estava quase para começar o show do Zeca fui buscar uma cerveja e devido a falta da mercadoria na barraca e ao encontro com alguns amigos acabei demorando na empreitada. Quando voltei fui deflagrado pelo mau humor da Ita que julgou minha demora de maneira ciumática, sentindo-me injustiçado fui fumar um cigarrinho ao lado do palco e bem no momento estaciona um carro trazendo o Zeca. Eu até então tinha planejado não dar uma de tiete, mas diante das circunstâncias provocadas pelo efeito cigarrinho não resisti e fui ao encontro dele na tentativa de alguma interação. O resultado foi um pequeno pedido pra tocar Salão de Beleza e a foto que tirei.
Nem preciso falar da qualidade do show, pois quem conhece o Zeca sabe do seu estilo e qualidade.
Após dormir e almoçar na casa da amiga Silvia, no domingo fomos à prainha de Ilha beber e celebrar a vida e a companhia de bons amigos.
Esta pergunta ronda a filosofia desde os tempos de Platão, onde o filósofo se libertava das correntes na caverna e saía divulgando a verdadeira realidade. Mas o que as pessoas vivenciavam dentro da caverna também não era uma realidade? Qual o critério que define aquela realidade mais real que esta? Este tema também foi meu objeto de estudo durante a graduação e o mestrado. Estas questões sempre foram presentes em minhas reflexões. No decorrer da história da filosofia encontramos dois principais segmentos que tentaram dar resposta a esta pergunta. Os primeiros foram os empiristas que definiam a realidade como fatos ou coisas observáveis cujas sensações se associam e formam idéias em nosso cérebro. Os segundos são os idealistas que explicam a realidade como fruto das nossas ideias, ou seja, a realidade é um dado da consciência, o intelecto produz as ideias e as fazem existir na realidade.
Marilena Chauí dirá que não é nem um, nem outra, o fato é que a realidade é um processo, um movimento temporal de constituição dos seres e de suas significações, esse processo depende fundamentalmente de modo como os homens se relacionam entre si e com a natureza. Vale lembrar que esta ideia está pautada na teoria social de Marx, que, entre outras coisas, diz que a realidade do homem se confunde “[...] com o que produzem e também com o como produzem. Aquilo que os indivíduos são depende, portanto, das condições materiais da sua produção” (MARX; ENGELS, 1984, p. 15).
Nesta linha de raciocínio encontraremos as relações sociais como definidoras da realidade. Está concepção não se trata meramente de uma crítica marxista ao sistema capitalista, mas de uma constatação ontológica. De definir de modo concreto e profundo o que é a realidade.
Alguns teóricos reducionistas atribuíram a esta ideia marxista uma conotação empirista. É preciso lembrar que Marx não se esquece do plano das ideias, de fato, não há como negar, que ele atribui uma prioridade ontológica ao plano material, mas também apresenta ideias significativas no plano ideológico, ou superestrutural em seus próprios dizeres. Diz que a base do desenvolvimento histórico e da realidade são as relações sociais, sobretudo em seu modo produtivo, mas que estas relações produzem no plano das ideias concepções e valores que as explicam, justificam e as auto-legitimam. Estas concepções estariam presentes em todas as instituições sociais, por exemplo, Família, Igreja, Escola, etc. A articulação entre estas duas esferas formaria o movimento da práxis social.
É interessante como o pensamento se processa. Todas essas ideias estudei e defendi durante quase toda minha vida profissional e acadêmica. E foi em uma conversa com minha mãe que percebi a dimensão de sua verdade. Ela estava me contando uma visita que fez a uma senhora de 95 anos e no meio do relato disse que a senhora era lúcida e vivia a realidade de hoje. Isto me chamou a atenção e pensei: “qual foi o critério que ela usou para definir que a senhora era lúcida e vivia a realidade de hoje”. Perguntei porque e ela continuou relatando os pensamentos da senhora. Disse que ela comia bobagens e dizia que isso sim que era bom. Disse que hoje o melhor é não casar e assim por diante, ou seja, o fato da velhinha estar na realidade e lúcida é o fato dela vivenciar as relações sociais atuais e internalizar as ideias que as justificam. Pronto! Está comprovado que Marx tinha razão!
Hoje tive um sonho estranho. Acordei com ele na cabeça e até agora não consegui esquecer as imagens. Foi com a Elis, estava conversando com ela quando sua filha apareceu para me cumprimentar. O chocante foi que sua filha era uma quimera, que misturava traços de rato, corpo de macaco e desenvoltura de gato. Exalava um cheiro forte de tabaco e sua pele era gelatinosa e pegajosa. Tentei disfarçar o espanto, mas Elis percebeu e no mesmo instante começou a passar um filme em minha mente, nele eu era protagonista pelo desgosto da filha de Elis ter nascido daquele jeito. Foi tudo uma brincadeira de quando Elis estava grávida, demos uma bebida feita de fita de vídeo e cinza de cigarros. Ninguém sabia da gravidez, ela também diz que não, mas o Carlos, seu esposo, diz que sim, que Elis sabia e que por isso a responsabilidade foi dela.
Acordei com a imagem da filha de Elis em minha íris. Fui tomar café e um homem, aparentemente 40 anos começou a interagir comigo.
E aí...
O cigarro da madrugada voltou. Com grande estilo e dedicação. Tudo para fazer emoção, como os carros novos em garagens velhas. Minha obra é uma arquitetura mosaica. Cheia de nuances moldados pela vida. Preguiça ou medo? Nenhum, apenas visão artística de uma vida sem ressentimentos. Moldo a arquitetura vestido de branco e coalhado de sangue. O sangue que acabo de derramar por ti o madrugada. Madrugada sem dor, sem rancor, sem amor. Ele começou de acabar, e onde chegar? Até o filtro fumar. Vejo as imagens de um filme rodando para trás até chegarmos no início, no dia, na hora, no momento do tormento. Na comemoração de uma vitória, na explosão de um grito de gol.
Sinto o cheiro da máquina, sinto o pulsar do bit e do ribit. Na foto em minha frente o pigmeu se ajoelha diante do brilhar do LCD.
O Barulho da vidraça
Barulho roça a vidraça,
É o vento que traz a vida,
Uma vida que se lança nos escombros da casa.
Ela está cheia, cheia de veneno, de doce, de nicotina.
Acendo um cigarro para fixar melhor as idéias
E escrevê-las sem curvas nem retas, apenas sombras
Que rodeiam o quarto.
Eis que invento o universo de dentro de minha pupila dilatada de tanto chorar.
São as lágrimas que venceram minha morte.
São elas que invadiram minha mente.
Foram elas que escoaram pelo mar.
A magia ronda o espelho,
É o vento que te leva para vida,
Uma vida que se esconde atrás dos olhos.
Ela está minguante de mim, de você, de nós.
Seu ciclo é vital, sua energia mortal.
Seu cantar é magistral, assim como a pena que sentes de mim
Quanto tento chorar e me seguro no vão da razão de existir.
Existir com você,
Para você,
E além de você.
O cantar rompe a madrugada
É o vento que chora por ti.
É a vida que tivemos, temos e seremos.
Suspiro para me levantar e olhar em seus olhos e dizer e dizer e dizer e dizer.
Para no fim, dizer realmente que te amo.
E que tudo que tenho dito são apenas bobeiras de um rapaz apaixonado.
Apaixonado pela vida que o vento insiste em trazer.
Apaixonado pela lua escondida detrás das nuvens.
Apaixonado por você debaixo das cobertas, chorando pela partida.
Que inevitavelmente o tempo trará como música trazida pelo vento.
E que fugiremos como dançarinos escondidos por detrás de nossos sonhos.
Sempre tive um particular interesse em refletir sobre o que é ser crítico. Neste texto apresentarei algumas considerações sobre estas reflexões. A primeira premissa é a da historicidade. Sem ela nenhuma crítica será realmente crítica, e por uma razão simples, se uma idéia, argumento ou questionamento não forem comparadas e contextualizados no desenvolvimento da história corre-se o risco de utilizar-se de elementos conservadores sem a consciência de que foram considerados e/ou utilizados por algum grupo social. Outra consideração é identificar os interesses e finalidades que se configuram na conjuntura do fato analisado. No entanto, esta identificação terá que se articular com os valores sociais, pois é neste momento em que se evidencia a finalidade das ações. Por exemplo, buscar a educação em uma perspectiva cidadã é mais crítico que usá-la exclusivamente para fins lucrativos, e assim por diante.
Outro aspecto importante é o questionar a ordem pseudonatural das coisas. Como é sabido, o universo naturalmente tende à entropia, ou seja, desorganização de matéria com perda de energia. Não questionar esta tendência do universo significa conservá-lo da maneira que está organizado e se organizando. Portanto, ser crítico significa questionar esta tendência. No entanto, neste aspecto entra outra questão de suma importância: a relação conteúdo e forma. Via de regra, identificamos a criticidade apenas com sua forma de se manifestar. Esta forma de se manifestar e analisar é comum na América Latina, visto que nossa formação tem forte influência do messianismo popular, ou seja, temos a tendência de confundir manifestações que possuem forma ofensiva e autoritária com posturas críticas. Neste aspecto é importante analisar o conteúdo dessas manifestações, lembrando sempre de considerar os aspectos citados anteriormente.