sábado, 12 de julho de 2014

Relações das relações de produção

Essa análise se refere ao quadro geral de cinco temas de seis reportagens do Jornal Valor Econômico entre os dias 10 e 11/07. O primeiro tema trata-se de valores que o Governo federal prevê gastar com infraestrutura O valor total noticiado é de R$ 920 bilhões até o ano de 2018. A novidade é que aumenta em 2% o valor total do PIB, chegando à marca de 20%. A matéria também informa as áreas previstas para as verba que serão gerenciadas pelo BNDS, sendo que óleo e gás representam 60% do total, transporte, energia e saneamento dividem o restante. 

O segundo tema, único que agrega duas matérias, é sobre a diminuição do emprego na indústria. A fonte é da Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes) do IBGE, que aponta uma queda no emprego no setor industrial de 0,7% em maio, maior que de abril que foi de 0,4%. Informa a matéria que já é o terceiro mês consecutivo que ocorre a queda. Quanto ao setor que mais teve queda, foi o automotivo, com 10%. E o Estado que mais teve foi o paraná, com 4,0%. Outra informação que a matéria também apresenta é a queda da hora paga, que no caso de máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicação a queda foi de 10,4%, no setor de meios de transportes foi de 6,4% e no setor de produtos de metal a taxa foi de 7,7%. Um elemento de destaque em uma das matérias é a relação que fizeram com as taxas de 2009, quando da crise do setor financeiro. Essa informação conecta com o próximo tema, que é exatamente o setor financeiro. 

O terceiro tema refere-se ao setor financeiro, especificamente ao momento de crise em que o Banco do Espírito Santo (BES) vem passando. Começou com a Portugal Telecom emprestando 2 milhões para a Rioforte, holding do grupo Espírito Santo. Essa transação afetou a fusão da Portugal Telecom com a Oi, pois especulam que a Rioforte não terá condições de pagar com o empréstimo.

O quarto tema é sobre o comércio, especificamente sobre os ganhos que a rede Pão de Açúcar vem apresentando, que giram em torno de 13,4% no total e 35% especificamente no comércio eletrônico. A matéria explica que um dos fatores responsáveis pelo aumento é a expansão de 116 lojas que a rede recentemente realizou.

O quinto e último tema é sobre a inflação. O mês de junho apresentou alta de 6,55% para as famílias de baixa renda e de 0,33% para famílias de renda até 2,5 salários mínimo. Os itens que mais tiveram alta foram de vestuário, educação e comunicação e os que tiveram baixa foram de transporte (-0,09%) e alimentação (0,08%). 

Por fim, tentarei fazer um quadro geral dos temas que apareceram e de suas conexões. Vimos que a indústria apresenta baixa nos empregos e nas horas pagas. Indica que seus estoques estão altos e seus consumidores com pouco crédito. Em contrapartida, o setor de comércio apresenta bom cenário, tanto pela notícia da rede Pão de Açúcar quanto pela taxa inflacionária que de alimentos. Entende-se que parte da mais-valia cristalizada em lucro tem se transferido a este setor. Já a apropriação da riqueza pelo salário é de difícil compreensão, pois de um lado o setor industrial aponta dificuldades e, do outro, o comércio aponta que há consumo. 
Outra conexão que merece destaque é quanto ao valor de investimento destinado à transporte e à sua queda de taxa de emprego. De fato, um aspecto que precisaria de mediações mais consistentes para análise. Por fim, tem-se uma notícias que relaciona diretamente a diminuição do emprego com o momento de crise financeira, exatamente, no momento em que o BES apresenta indícios de crise.

As ferrovias e a relações de produção

As relações sociais de produção ultrapassam o âmbito nacional e possuem conexões internacionais. Cabe entender melhor o que cada classe de cada país tem a oferecer e trocar neste intercâmbio, enfim, o que cada ator econômico se apropria do outro. 

Recentemente, como mostrar a notícia abaixo, o Brasil vem definindo termos de um acordo de cooperação com a China, especificamente com empresas de produção de ferrovia, de tecnologia da informação e de produção de máquinas e equipamentos. Ao que indica a China oferece ao Brasil força produtiva concretizada em alta tecnologia, pois de acordo com a matéria, a qualidade chinesa em produzir ferrovias é superior que a brasileira. Fato comprovado pelos 100 mil km de ferrovias que o país possui, que representam cerca de 300% a mais o Brasil, que é de 29 mil km. 

Outro elemento importante a destacar é entender a política nessa equação. O que o chineses para entrar no universo das relação sociais de produção brasileiro não possuem o conhecimento jurídico e a inserção política de concessão para construção de ferrovias. Esses elementos são evidenciados na notícia como uma vantagem para a burguesia nacional, sendo essa, ao que parece, a linha política editorial do Jornal, que dito em verso: a burguesia nacional está inserida nas engrenagens jurídicas e políticas do país e por isso se possuem o direito de "morder" parte das forças produtivas e da riqueza produzida dos acordos internacionais. E dito em prosa: o Estado como concessionário 

O que é importante analisar também é onde entra o trabalhador nesse cenário. Ele não aparece no cenário e a mídia burguesa o coloca como expectador do processo produtivo, embora o mesma seja ator principal na construção. O Jornal não apresenta dados acerca de quantos trabalhadores e qual o valor da obra prevista, que no caso é de 1.000 km. Teríamos que ter mais dados para analisar a taxa de mais-valia  produzida no empreendimento e comparar com o ganho de capital da burguesia nacional. 

Outros elementos que também comporiam a presente análise, seria entender o que tais empresas representam na China. Como se apropriam da riqueza e como o Estado chinês se posiciona frente a essa apropriação. No entanto, pesquisar tais elementos escapam do momento e do intuito dessa breve análise.