terça-feira, 20 de outubro de 2009

O que é realidade?

Esta pergunta ronda a filosofia desde os tempos de Platão, onde o filósofo se libertava das correntes na caverna e saía divulgando a verdadeira realidade. Mas o que as pessoas vivenciavam dentro da caverna também não era uma realidade? Qual o critério que define aquela realidade mais real que esta? Este tema também foi meu objeto de estudo durante a graduação e o mestrado. Estas questões sempre foram presentes em minhas reflexões. No decorrer da história da filosofia encontramos dois principais segmentos que tentaram dar resposta a esta pergunta. Os primeiros foram os empiristas que definiam a realidade como fatos ou coisas observáveis cujas sensações se associam e formam idéias em nosso cérebro. Os segundos são os idealistas que explicam a realidade como fruto das nossas ideias, ou seja, a realidade é um dado da consciência, o intelecto produz as ideias e as fazem existir na realidade. Marilena Chauí dirá que não é nem um, nem outra, o fato é que a realidade é um processo, um movimento temporal de constituição dos seres e de suas significações, esse processo depende fundamentalmente de modo como os homens se relacionam entre si e com a natureza. Vale lembrar que esta ideia está pautada na teoria social de Marx, que, entre outras coisas, diz que a realidade do homem se confunde “[...] com o que produzem e também com o como produzem. Aquilo que os indivíduos são depende, portanto, das condições materiais da sua produção” (MARX; ENGELS, 1984, p. 15). Nesta linha de raciocínio encontraremos as relações sociais como definidoras da realidade. Está concepção não se trata meramente de uma crítica marxista ao sistema capitalista, mas de uma constatação ontológica. De definir de modo concreto e profundo o que é a realidade. Alguns teóricos reducionistas atribuíram a esta ideia marxista uma conotação empirista. É preciso lembrar que Marx não se esquece do plano das ideias, de fato, não há como negar, que ele atribui uma prioridade ontológica ao plano material, mas também apresenta ideias significativas no plano ideológico, ou superestrutural em seus próprios dizeres. Diz que a base do desenvolvimento histórico e da realidade são as relações sociais, sobretudo em seu modo produtivo, mas que estas relações produzem no plano das ideias concepções e valores que as explicam, justificam e as auto-legitimam. Estas concepções estariam presentes em todas as instituições sociais, por exemplo, Família, Igreja, Escola, etc. A articulação entre estas duas esferas formaria o movimento da práxis social. É interessante como o pensamento se processa. Todas essas ideias estudei e defendi durante quase toda minha vida profissional e acadêmica. E foi em uma conversa com minha mãe que percebi a dimensão de sua verdade. Ela estava me contando uma visita que fez a uma senhora de 95 anos e no meio do relato disse que a senhora era lúcida e vivia a realidade de hoje. Isto me chamou a atenção e pensei: “qual foi o critério que ela usou para definir que a senhora era lúcida e vivia a realidade de hoje”. Perguntei porque e ela continuou relatando os pensamentos da senhora. Disse que ela comia bobagens e dizia que isso sim que era bom. Disse que hoje o melhor é não casar e assim por diante, ou seja, o fato da velhinha estar na realidade e lúcida é o fato dela vivenciar as relações sociais atuais e internalizar as ideias que as justificam. Pronto! Está comprovado que Marx tinha razão!