quarta-feira, 22 de abril de 2009

O cigarro da madrugada e o barulho na vidraça

Hoje tive um sonho estranho. Acordei com ele na cabeça e até agora não consegui esquecer as imagens. Foi com a Elis, estava conversando com ela quando sua filha apareceu para me cumprimentar. O chocante foi que sua filha era uma quimera, que misturava traços de rato, corpo de macaco e desenvoltura de gato. Exalava um cheiro forte de tabaco e sua pele era gelatinosa e pegajosa. Tentei disfarçar o espanto, mas Elis percebeu e no mesmo instante começou a passar um filme em minha mente, nele eu era protagonista pelo desgosto da filha de Elis ter nascido daquele jeito. Foi tudo uma brincadeira de quando Elis estava grávida, demos uma bebida feita de fita de vídeo e cinza de cigarros. Ninguém sabia da gravidez, ela também diz que não, mas o Carlos, seu esposo, diz que sim, que Elis sabia e que por isso a responsabilidade foi dela.

Acordei com a imagem da filha de Elis em minha íris. Fui tomar café e um homem, aparentemente 40 anos começou a interagir comigo.

E aí...

O cigarro da madrugada voltou. Com grande estilo e dedicação. Tudo para fazer emoção, como os carros novos em garagens velhas. Minha obra é uma arquitetura mosaica. Cheia de nuances moldados pela vida. Preguiça ou medo? Nenhum, apenas visão artística de uma vida sem ressentimentos. Moldo a arquitetura vestido de branco e coalhado de sangue. O sangue que acabo de derramar por ti o madrugada. Madrugada sem dor, sem rancor, sem amor. Ele começou de acabar, e onde chegar? Até o filtro fumar. Vejo as imagens de um filme rodando para trás até chegarmos no início, no dia, na hora, no momento do tormento. Na comemoração de uma vitória, na explosão de um grito de gol.

Sinto o cheiro da máquina, sinto o pulsar do bit e do ribit. Na foto em minha frente o pigmeu se ajoelha diante do brilhar do LCD.

O Barulho da vidraça

Barulho roça a vidraça,

É o vento que traz a vida,

Uma vida que se lança nos escombros da casa.

Ela está cheia, cheia de veneno, de doce, de nicotina.

Acendo um cigarro para fixar melhor as idéias

E escrevê-las sem curvas nem retas, apenas sombras

Que rodeiam o quarto.

Eis que invento o universo de dentro de minha pupila dilatada de tanto chorar.

São as lágrimas que venceram minha morte.

São elas que invadiram minha mente.

Foram elas que escoaram pelo mar.

A magia ronda o espelho,

É o vento que te leva para vida,

Uma vida que se esconde atrás dos olhos.

Ela está minguante de mim, de você, de nós.

Seu ciclo é vital, sua energia mortal.

Seu cantar é magistral, assim como a pena que sentes de mim

Quanto tento chorar e me seguro no vão da razão de existir.

Existir com você,

Para você,

E além de você.

O cantar rompe a madrugada

É o vento que chora por ti.

É a vida que tivemos, temos e seremos.

Suspiro para me levantar e olhar em seus olhos e dizer e dizer e dizer e dizer.

Para no fim, dizer realmente que te amo.

E que tudo que tenho dito são apenas bobeiras de um rapaz apaixonado.

Apaixonado pela vida que o vento insiste em trazer.

Apaixonado pela lua escondida detrás das nuvens.

Apaixonado por você debaixo das cobertas, chorando pela partida.

Que inevitavelmente o tempo trará como música trazida pelo vento.

E que fugiremos como dançarinos escondidos por detrás de nossos sonhos.