segunda-feira, 3 de maio de 2010

Intelectual é triste?

Neste domingo, dia 02 de maio, fui à palestra do Joãosinho Trinta na 4ª Bienal do Livro em São José do Rio Preto, com o tema “Pobre gosta de Luxo. Quem gosta de miséria é Intelectual”. Uma palestra interessante para conhecer um pouco a realidade e os significados do carnaval do Rio de Janeiro, o mais famoso do país. Um dos aspectos interessantes foi ele destacar que os integrantes da comunidade se envolvem o ano todo com o carnaval. A vida e o cotidiano são ocupados pelo espírito carnavalesco e não se reduz aos cinco dias de fevereiro para acabar na quarta-feira de cinzas. Estes são apenas momentos “grandiosos” de um trabalho árduo e permanente. Portanto, o carnaval possui significados além da festa momentânea, chega a ser um eixo estruturante da vida social da comunidade e está presente no comportamento cultural desses indivíduos.

Outra questão que chamou atenção foi a mudança de paradigma que Joãosinho realizou. Como o próprio disse, levou para as escolas de samba o formato das óperas, transformando o “samba do crioulo louco” em um espetáculo organizado. No meu ponto de vista, o que aconteceu foi um movimento dialético de influências elitistas na forma de fazer o carnaval. Tanto que Joãosinho foi muito criticado em levar luxo em exagero para avenida, ocasinando a frase que foi tema da palestra.

Terminou a palestra e o debate aberto, em meu peito ainda pulsava uma dúvida: que significado tinha a miséria para o intelectual. Fui lá, perguntei e a resposta foi bem estilo Joãosinho. Não respondeu diretamente o que era a miséria, apenas definiu o que era o luxo, e disse: “[...] eu não estava me referindo ao luxo superficial de joias e fazendas, de objetos caros de uma riqueza material. Eu tava me referindo ao luxo da alegria, ao luxo da criatividade do carnaval, ao luxo da participação do povo, ao luxo da auto-estima do povo [...]” (sic). Partindo de uma riqueza de significados e representações sociais, tudo me leva a crer que o intelectual não se dá ao luxo de ser alegre, de ser criativo, de participar e se envolver com o povo em sua auto-estima. De fato, e partindo de conhecimentos empíricos, Joãosinho diz algumas verdades, mas contendo em si generalizações. A academia, de modo geral, é fria, calculista e pouco criativa. A rigidez metodológica positivista não permite que o intelectual se desprenda de formas lúgubres. O ditado que “a ignorância é a mãe da felicidade” é levado a sério nos meios intelectuais. Não que exista uma miséria de alegria, mas apenas, uma alegria miserável.

E pra finalizar a reflexão, segue um poema que adoro e que cabe como uma luva para o momento:

Demorgogon

Na rua cheia de sol vago há casas paradas e gente que anda

Uma tristeza cheia de pavor esfria-me.

Pressinto um acontecimento do lado de lá das frontarias e dos movimentos

Não, não, isso não!

Tudo menos saber o que é o Mistério!

Superfície do Universo, ó Pálpebras Descidas,

Não vos ergais nunca!

O olhar da Verdade Final não deve poder suportar-se!

Deixai-me viver sem saber nada, e morrer sem ir saber nada!

A razão de haver ser, a razão de haver seres, de haver tudo,

Deve trazer uma loucura maior que os espaços

Entre as almas e entre as estrelas.

Não, não, a verdade não! Deixai-me estas casas e esta gente...

Que bafo horrível e frio me toca em olhos fechados?

Não os quero abrir de viver! Ó Verdade, esquece-te de mim!

Álvaro de Campos

2 comentários:

Paula Leão disse...

Intelectual é uma besta! rs Gostei da sua reflexão!

Unknown disse...

ser intelectual e negar a alegria de viver a vida?!?.... ããã não!